O meu avô está doente. a minha mãe diz que ele tem cancro nos pulmões, não tem, mas é como se tivesse. passa o dia a tossir, esquece-se de onde está, mesmo em casa. perde-se no quarto. numa divisão tão simples como um quarto. o simples quarto onde nós passamos grande parte da nossa vida, a ouvir música, a dormir, a trocar de roupa, a preparamo-nos para o dia que pode ser bom ou mau, a ignorar, a esquecer, a fingir, nesse tão simples quarto, ele perde-se. tranca-se. tranca-se literalmente à chave e depois esquece-se de onde a pôs. tranca-se a ele próprio, pois não aceita ajuda de toda a gente, só de algumas pessoas.
pessoas essas que também têm a sua vida e que não se podem mudar para a casa dos meus avós.
O meu avô fumou e bebeu muito, imenso, demais. e no outro dia virou-se para a minha mãe e disse : -Vês filha, eu sou o exemplo das pessoas que fumam e bebem. a minha mãe chegou a casa em lágrimas.
e ficou triste, até hoje.
eu estava tão preocupada, (e apesar de ainda estar bem preocupada) abstraí-me da realidade da situação.
Tem graça, nós vemos nas séries, como na Anatomia de Grey, a parte em que os médicos dizem -não há mais nada a fazer, leve-o para casa. e pensamos "fogo coitadas daquelas pessoas" mas simplesmente não há aquela transmissão de dor, como quando vemos isto acontecer a um grande amigo(a) nosso. e essa dor divide-se pelos amigos, do triste notificado, dispersando-se, desaparecendo, porque são os nossos amigos e familiares que nos tiram a dor, empurram-na para longe, fazem-na desaparecer. E essa dor está a afectar a minha família neste momento. fazendo-a estranhamente unir-se. mas é complicado :x
eu nao tenho relação com o meu avô. é triste. eu sei. e essa dor neste momento, ainda não me afectou. sinto-me um robô. um objecto, algo sem sentimentos :x e por isso mutilo-me from the inside out, porque eu não sei como é possível, não a sentir. sinto-me desumanha. eu quero ir para medicina, mortes não em devem afectar, mas é o meu avô pelo amor de deus ! eu sei que quando me aperceber verdadeiramente da realidade pode ser tarde demais, por isso a minha mãe pediu-me para eu ir visitar o meu avô. talvez o choque sirva para acordar. acordar da realidade. montar é o que eu faço para me abstrair da mesma, neste momento, preciso de me concentrar na realidade, acordar para a vida. acordar para o facto de que eu vou ter saudades tuas avô <3 e que gostava muito de te conhecer bem :)
ainda bem, muito obrigada (:
ResponderEliminaradorei este, está lindo!
Obrigada : )
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